Por Carolina Rizzo e Tariq Augusto

Na última sexta-feira (22), foi anunciada, pela Prefeitura de Belo Horizonte, a flexibilização do isolamento social na capital mineira a partir dessa segunda-feira (25). A ocupação dos leitos de UTI do Sistema Único de Saúde, que está em 74%, e a taxa de contaminação, que são 21,7 diagnósticos positivos por 100 mil habitantes, foram fundamentais para que a medida fosse tomada.

Segundo o Secretário Municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, apesar da flexibilização, não está descartada a possibilidade de lockdown. “Se os indicadores mostrarem que estão piorando, nós podemos interromper esse processo a qualquer hora. Qualquer evolução nos leva a fechar tudo novamente”, declarou.

A reabertura será realizada em quatro fases. Estabelecimentos terão que criar ações para evitar aglomerações, disponibilizar álcool em gel e proibir entrada de pessoas que não estiverem usando máscaras.

Fases da reabertura do comércio na capital mineira. Imagem: Tariq Augusto.

Nessa primeira fase, na avaliação dos especialistas, poderão reabrir os locais que têm menor potencial de gerar aumento significativo na circulação de pessoas na cidade. São eles:

– Salões de beleza (exceto clínicas de estética) – Funcionamento das 7h às 21h

– Shoppings populares – Funcionamento das 11h às 19h

– Comércio varejista:

  • Móveis, artigos domésticos, cama mesa e banho, tecido e afins – Funcionamento das 11h às 19h
  • Papelaria, livraria, brinquedos e afins – Funcionamento das 11h às 19h
  • Perfumaria, cosméticos e higiene pessoal – Funcionamento das 11h às 19h
  • Veículos, peças e órios – Funcionamento das 8h às 17h

Os shoppings populares estão na lista, porém, shoppings centers não. “Essa opção pelos populares é porque eles abrigam apenas 2 mil colaboradores, se a gente somar o número de pessoas que trabalham em shoppings centers, o número é muito maior. E a gente teve essa preocupação de limitar o número de pessoas circulando”, concluiu o Secretário Municipal de Saúde.

SHOPPINGS CENTERS SOMAM PREJUÍZOS

De acordo com o superintendente da Associação de Lojistas de Shopping Centers (Aloshopping), Alexandre Dolabella França, desde o fechamento, mais de seis mil pessoas foram demitidas. Cerca de 15% dos lojistas já entregaram os espaços nos centros de compras, em Belo Horizonte e região metropolitana.

“A gente vê com bastante indignação esse programa de reabertura em não contemplar os shoppings centers, os populares não têm o controle sanitário como os maiores, que já têm um protocolo para funcionamento de forma segura. Poderia abrir juntos sim”, ressalta Alexandre.

Em relação a reabertura, o levantamento da Aloshopping prevê que haverá queda de 70% nos primeiros dois meses, chegando ao fim do ano com 20%, se comparado ao mesmo período do ano ado.

“De início, o cinema não voltará. Nas praças de alimentação haverá distanciamento entre as mesas e não poderá ter atividade de recreação, ou seja, entretenimento nenhum. Momento muito complicado, a gente espera que a prefeitura e a população deem sua contribuição”, disse o superintendente.

LOJISTAS ENFRENTAM DIFICULDADES

A microempreendedora Débora Freitas, é responsável por duas lojas no Shopping Paragem, localizado no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte. Os espaços estão fechados desde o dia 19 de março. Nesses dois meses, o prejuízo da lojista já ou de 98%. “Estamos em uma situação que não sabemos o que fazer, não tem como criar uma projeção, uma programação, porque é incerto. Não podemos pegar empréstimo em banco, porque não sabemos se vamos vender depois”, afirmou.

Ela é moradora do bairro há 14 anos, e é a primeira vez que a por uma situação dessa. “Já estávamos enfrentando dificuldades devido ao que vivemos em Minas Gerais. Estamos em um bairro que possui muitos funcionários públicos, que são nossos clientes e não estão com os pagamentos em dia, isso já vinha acarretando uma queda brusca nas vendas. Teve as chuvas de janeiro que atrapalharam demais. Agora, a pandemia”, lamentou.

Segundo a lojista, o centro de compras tem dado e aos comerciantes, como desconto no aluguel. Por outro lado, ela reclama sobre a falta de divulgação dos produtos, por meio das redes sociais do shopping, que antes já eram utilizadas. Nossa equipe entrou em contato com o Shopping Paragem, mas não obteve resposta.

Débora Freitas registra fotos dos produtos para divulgação em redes sociais. Foto: arquivo pessoal.

A saída de muitos comerciantes é vender pelas redes sociais, mas a preocupação maior é quanto ao retorno. “Todos os meus funcionários ficaram com suspensão de contrato e isso causará dor de cabeça, porque quando voltar à normalidade eu terei a obrigatoriedade de ficar com meu colaborador mais dois meses. Será que vou conseguir mantê-los? ”, questiona Débora.

A POLÊMICA ENTRE A SAÚDE E A ECONOMIA

Um estudo promovido pelo Comitê de Enfrentamento do Novo Coronavírus da UFMG, chamado “A falsa polêmica entre a “bolsa” e a vida”, apontou que o número de casos reduzidos em Belo Horizonte se deve aos efeitos positivos do isolamento social.

Essa posição do governo fez com que a capital mineira fosse vista pelo Brasil inteiro com bons olhos. Segundo a pesquisa, ainda não é o momento para retomar as atividades comerciais. O pico da epidemia em Belo Horizonte ainda não foi alcançado. Foi possível “achatar a curva”, mas não é hora de arriscar.

Uma das responsáveis pelo estudo, a pneumologista e professora da UFMG, Cristina Alvim, explica a finalidade do documento produzido.

“O objetivo do texto foi sensibilizar para a falsa dicotomia entre saúde e economia. Preservar e possibilitar a vida humana constitui o objetivo maior da economia. A flexibilização prematura do distanciamento social em Minas Gerais não é recomendada sob justificativa de preservar a economia. O isolamento traz custos econômicos, mas abrir mão da única estratégia possível para as diversas regiões pode trazer custos ainda maiores e mais deletérios, tanto para a saúde como para o país”.

Com a chegada do novo coronavírus, o mundo vive um verdadeiro caos. No Brasil, o número de óbitos já chegou a 23.102, nesta segunda (25). “O que preocupa ainda mais é a posição do Governo diante de uma situação tão assustadora. É descomunal o descaso e despreparo por parte do presidente, Jair Bolsonaro. O que se espera, é o mínimo de empatia possível, vindo de uma pessoa que tem o papel de proteger o seu povo. As atitudes do presidente expõem o tamanho descaso com a sua população. Não foi dada nenhuma recomendação de higiene e nenhuma medida importante foi tomada contra o vírus. Já não bastasse, desde o início, Bolsonaro se manteve a favor da reabertura do comércio e o retorno da rotina normalizada no país”, concluiu a pneumologista.